Busto de Sócrates - Museu do Louvre. |
Sócrates serviu como hoplita (infante) no exército de Atenas. De temperamento religioso,
foi avisado, pelo seu concidadão Querofonte, de que o Oráculo de Delfos o tinha
declarado “o mais sábio dos atenienses”. Consciente de que os deuses o chamaram
para uma missão de moralização de Atenas, dedicou-se a levar os seus
concidadãos a que se conhecessem a si mesmos (seguindo a máxima délfica),
mediante o exame das concepções que outros julgavam possuir a respeito de
determinada virtude. Sócrates adotou o diálogo como forma de reflexão. Depois
de duas ou três tentativas de dialogar com ele para responder aos seus
questionamentos, o interlocutor se calava, derrotado. (Situa-se, aqui, o caráter
aporético ou problemático do diálogo socrático). O interlocutor era conduzido à
inevitável conclusão: “só sei que nada sei”, a partir da qual poderia começar a
ser escutado “o demônio interior” (a voz da razão dentro de si). Nisso consiste
a maiêutica (ou arte de dar à luz os conceitos), que é a disponibilidade para a
sabedoria, que conduz à catarse, ou
purificação das ilusões egoístas. Alicerçado nesse seu método de interiorização
à procura da verdade, Sócrates partiu para uma crítica radical à sofística, a
qual consistia, segundo o pensador, no domínio da doxa (ou da opinião).
O filósofo, conseqüentemente, afrontou os poderosos da
cidade e teve de enfrentar a fúria deles. Condenado à morte pelo Areópago de
Atenas, deu a sua vida como testemunho da validade da doutrina que ensinava.
Segundo o ensinamento socrático, para bem agir não bastava alguém se pautar
pelo que estava estabelecido pelo costume ou as leis da Polis, sem levar em
consideração a voz da consciência. Sócrates, como Jesus, aperfeiçoou o conceito
da moral, exigindo uma raiz de autenticidade no comportamento humano, que
deveria se basear em convicções enraizadas no fundo da alma. O pensador grego
tornou-se, assim, o precursor do modelo da ética da autenticidade, que seria
sistematizado séculos mais tarde, por Kant, na sua Fundamentação da metafísica dos
costumes.
Platão (427-347) realizou a sistematização da tradição
socrática na Academia, fundada por ele em 387 a.C. e que funcionou durante
aproximadamente 800 anos até 529 d.C., (quando foi encerrada por ordem do
Imperador Justiniano I). Platão conservou a tradição do seu mestre nos diálogos
que levam o nome de “aporéticos”. O sentido geral do pensamento platônico é de
superação das coisas fenomenais, apreendidas pelos sentidos (onta gignoména). É preciso ir dessas
coisas até o ser verdadeiro, a Idéia (eidos).
O domínio das Idéias é apresentado como aquilo que é estável, permanente. O
domínio das coisas sensíveis, por sua vez, é apresentado como o reino do
movimento. Mas, se há essa dualidade de domínios, existe, portanto, o problema
da mediação entre ambas as instâncias.
Platão estendeu uma ponte entre esses dois pontos, que
se apresentavam contrários no pensamento pré-socrático: o ser é inamobilidade
(o representante desta versão foi, sem dúvida, Parmênides de Eléia, embora o
seu pensamento levasse em consideração, também, a finitude e o movimento). O
segundo ponto, contrário ao anterior, pressupõe que o ser é mobilidade (sendo o
representante desta versão Heráclito de Éfeso, embora ele reconhecesse, por sua
vez, o pano de fundo de permanência em relação ao qual ocorre o movimento).
Numa primeira fase do pensamento platônico, o ser da
Idéia é apresentado como permanência e imutabilidade. Mas, na segunda fase do
seu pensamento, Platão coloca, cada vez mais claramente, o problema da relação
das Idéias com as coisas. Paralelamente, é colocada a questão da relação das
Idéias com o Sumo Bem. Destarte, Platão introduz o tema do movimento no reino
das Idéias. Evidentemente, não se trata do mesmo movimento das coisas. O
movimento das Idéias diz relação à ordenação do Cosmo. É o movimento da
manifestação do Ser. Veremos este assunto, ampliado, na próxima entrada que
versa sobre Platão e a sua obra.
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