terça-feira, 20 de março de 2012

SÓCRATES (469-399 a. C.)


Busto de Sócrates - Museu do Louvre.
Sócrates serviu como hoplita (infante) no exército de Atenas. De temperamento religioso, foi avisado, pelo seu concidadão Querofonte, de que o Oráculo de Delfos o tinha declarado “o mais sábio dos atenienses”. Consciente de que os deuses o chamaram para uma missão de moralização de Atenas, dedicou-se a levar os seus concidadãos a que se conhecessem a si mesmos (seguindo a máxima délfica), mediante o exame das concepções que outros julgavam possuir a respeito de determinada virtude. Sócrates adotou o diálogo como forma de reflexão. Depois de duas ou três tentativas de dialogar com ele para responder aos seus questionamentos, o interlocutor se calava, derrotado. (Situa-se, aqui, o caráter aporético ou problemático do diálogo socrático). O interlocutor era conduzido à inevitável conclusão: “só sei que nada sei”, a partir da qual poderia começar a ser escutado “o demônio interior” (a voz da razão dentro de si). Nisso consiste a maiêutica (ou arte de dar à luz os conceitos), que é a disponibilidade para a sabedoria, que conduz à catarse, ou purificação das ilusões egoístas. Alicerçado nesse seu método de interiorização à procura da verdade, Sócrates partiu para uma crítica radical à sofística, a qual consistia, segundo o pensador, no domínio da doxa (ou da opinião).

O filósofo, conseqüentemente, afrontou os poderosos da cidade e teve de enfrentar a fúria deles. Condenado à morte pelo Areópago de Atenas, deu a sua vida como testemunho da validade da doutrina que ensinava. Segundo o ensinamento socrático, para bem agir não bastava alguém se pautar pelo que estava estabelecido pelo costume ou as leis da Polis, sem levar em consideração a voz da consciência. Sócrates, como Jesus, aperfeiçoou o conceito da moral, exigindo uma raiz de autenticidade no comportamento humano, que deveria se basear em convicções enraizadas no fundo da alma. O pensador grego tornou-se, assim, o precursor do modelo da ética da autenticidade, que seria sistematizado séculos mais tarde, por Kant, na sua Fundamentação da metafísica dos costumes.

Platão (427-347) realizou a sistematização da tradição socrática na Academia, fundada por ele em 387 a.C. e que funcionou durante aproximadamente 800 anos até 529 d.C., (quando foi encerrada por ordem do Imperador Justiniano I). Platão conservou a tradição do seu mestre nos diálogos que levam o nome de “aporéticos”. O sentido geral do pensamento platônico é de superação das coisas fenomenais, apreendidas pelos sentidos (onta gignoména). É preciso ir dessas coisas até o ser verdadeiro, a Idéia (eidos). O domínio das Idéias é apresentado como aquilo que é estável, permanente. O domínio das coisas sensíveis, por sua vez, é apresentado como o reino do movimento. Mas, se há essa dualidade de domínios, existe, portanto, o problema da mediação entre ambas as instâncias.

Platão estendeu uma ponte entre esses dois pontos, que se apresentavam contrários no pensamento pré-socrático: o ser é inamobilidade (o representante desta versão foi, sem dúvida, Parmênides de Eléia, embora o seu pensamento levasse em consideração, também, a finitude e o movimento). O segundo ponto, contrário ao anterior, pressupõe que o ser é mobilidade (sendo o representante desta versão Heráclito de Éfeso, embora ele reconhecesse, por sua vez, o pano de fundo de permanência em relação ao qual ocorre o movimento).

Numa primeira fase do pensamento platônico, o ser da Idéia é apresentado como permanência e imutabilidade. Mas, na segunda fase do seu pensamento, Platão coloca, cada vez mais claramente, o problema da relação das Idéias com as coisas. Paralelamente, é colocada a questão da relação das Idéias com o Sumo Bem. Destarte, Platão introduz o tema do movimento no reino das Idéias. Evidentemente, não se trata do mesmo movimento das coisas. O movimento das Idéias diz relação à ordenação do Cosmo. É o movimento da manifestação do Ser. Veremos este assunto, ampliado, na próxima entrada que versa sobre Platão e a sua obra.

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