Fílon
de Alexandria foi um filósofo judeu do século I, destacou-se como o
primeiro pensador que tentou uma conciliação entre a Tradição Bíblica e a
Filosofia Helenística. A comunidade judaica de Alexandria era muito
numerosa e pesava pela sua cultura, bem como pela presença no comércio. Aspectos
que se destacam na obra de Fílon: ele adotou, em primeiro lugar, um
projeto filosófico-teológico; em segundo lugar, formulou uma teoria
acerca dos três planos de que se compõe a realidade e, em terceiro
lugar, partiu para identificar o caminho pelo qual podemos chegar ao
Absoluto, que consiste no conhecimento de Deus pelas suas obras.
1 – Projeto filosófico-teológico.
Fílon tentou traduzir o conjunto doutrinário contido no Antigo
Testamento, considerado como um todo coerente e articulado, em termos
das grandes correntes da sabedoria helênica e helenística, procurando
convergências com a Revelação judaico-cristã. Baseado na versão grega do
texto bíblico denominada Dos Setenta Septuaginta (LXX), Fílon interpretou o texto tanto alegórica como literalmente. Ele considerava a tradução grega da Bíblia tão inspirada por Deus como o original
hebraico, e defendendo que as versões hebraica e grega deveriam ser
tratadas “com temor e reverência, como irmãs, ou antes como uma e a
mesma coisa, tanto no assunto como nas palavras” (De Vita Mosis 2.40)[1].
Para
efetivar a sua nova interpretação do texto bíblico, Fílon recorreu, de
forma predominante, às filosofias platônica e aristotélica, bem como à
estóica, selecionando as soluções por elas propostas e partindo para um
ousado esforço hermenêutico dos textos bíblicos. O Antigo Testamento, em
que geralmente se alicerçou, foi interpretado seguindo três graus de
alegoria: a - sentido cosmológico (referente à natureza), b - sentido psíquico (relativo ao espírito humano) e c - sentido mítico (apontando aspectos ocultos ou misteriosos da vida divina).
2 – Três planos da realidade. O primeiro plano, para Fílon, estava constituído por Deus e pelo Logos. O pensador definia Deus como o Ser, interpretando metafisicamente as palavras de Yahvé a Moisés no Êxodo:
“Eu sou o que sou” e “Eu sou Aquele que é”. Deus é a realidade suprema,
transcendente, não redutível ao mundo. O Logos é a primeira obra de
Deus e Lhe está subordinado; é anterior ao mundo dos arquétipos, criados
previamente como modelos do mundo material, também criação de Deus. O
Logos é o Demiurgo, imagem e sombra de Deus. O segundo plano da
realidade estava constituído pelos mediadores criados, situados abaixo
do Logos, os Anjos. Eles são colaboradores por ordem de Deus na
construção do mundo dos arquétipos, e superiores a estes. “Anjos” é o
nome dado, também, aos espíritos que podem se unir a um corpo,
tornando-se, assim, almas dos homens. O Homem e o Mundo constituem o
terceiro plano da realidade, o mais inferior por estar vinculado à
matéria.
3 – Conhecimento de Deus pelas suas obras. Inatingível na sua Essência, Deus pode ser conhecido, na sua Existência, graças às suas obras, que são de dois tipos: a
– a existência de perfeições finitas no mundo exterior (que pressupõem,
à maneira platônica, a existência de uma Perfeição Infinita); b – a ação divina no interior do homem, pela profecia.
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