Pirro de Elis (365-275 a.C), acompanhou Alexandre o Grande (356-323 a.C) na expedição à Índia |
Sexto Empírico (200-250 d.C), sistematizador da Corrente Cética |
Esta
corrente de pensamento foi formulada, inicialmente, por Pirro de Elis
(365-275 a.C). Ulteriormente, a doutrina recebeu formatação sistemática
de Sexto Empírico (200-250 d.C).
Destaquemos
alguns aspectos biográficos acerca destes pensadores. Pirro nasceu em
Elis (cidade situada no noroeste do Peloponeso) e acompanhou Alexandre o
Grande (356-323 a.C) na sua expedição à Índia. Ao regressar, foi
nomeado pelos seus concidadãos “Grande Sacerdote de Elis”. O único
escrito que restou do pensador foi uma ode dedicada a Alexandre. Pirro
pertencia a uma família humilde e as inúmeras viagens de juventude,
certamente, contribuíram para que aperfeiçoara os seus conhecimentos.
Discípulo de Pirro, em Elis, foi Timon Silógrafo (320-230 a.C), poeta
satírico que se instalou em Atenas, onde divulgou os ensinamentos do
mestre. Ulteriormente, Enesidemo (80-10 a.C), seguidor de Pirro, fundou
uma escola em Alexandria, na qual ensinou as doutrinas do filósofo,
compiladas na obra que levou o título de Discursos Pirrónicos,
que deram ensejo à corrente denominada, genericamente, de “pirronismo”.
Dentre os seus ensinamentos, Pirro formulou os dez tópicos ou motivos
de dúvida do ceticismo antigo.
Não
se conhece o lugar de nascimento de Sexto o “Empírico”, assim chamado
pela sua prática da medicina. Viveu em Atenas, Alexandria e Roma. Os
seus escritos foram muito influenciados pelos ensinamentos de Pirro e
Enesidemo e estavam dirigidos contra a dogmática, ou doutrina filosófica
que pretendia conhecer a verdade absoluta, tanto no relativo à moral
quanto no que diz relação às ciências. Duas obras se conservaram da
lavra de Sexto Empírico: os Esboços Pirrónicos e Contra os Matemáticos.
A respeito da doutrina cética, Sexto Empírico escrevia, na primeira das
obras mencionadas: “O ceticismo é a faculdade de opor, de todas as
formas possíveis, entre si, as aparências (ou fenômenos) e os
conceitos. A partir daí, nós chegaremos, em virtude da força igual das
coisas e das razões contrapostas, à suspensão do juízo e,
posteriormente, à ataraxia (ataraxía)”.
Nos seguintes cinco itens podemos sintetizar a doutrina cética:
1 - O ponto de partida do ceticismo de Pirro é a relação entre a suspensão do juízo (epoché) e a paz da alma (ataraxia).
Toda inquietação provém da obrigação de conhecer e de conferir valor às
coisas. A crença dogmática nos bens ou nos males naturais produz, no
homem, confusão e angústia. A respeito, frisava Pirro: “Quando os
céticos suspendem o seu julgamento e atingem a indiferença, a paz da
alma se segue como a sombra segue o corpo”.
2 - O ceticismo de Pirro fundamenta a suspensão do juízo sobre a natureza das coisas, no “conflito das coisas equivalentes (isosthenie)”,
que é caracterizado assim por este pensador: “Para cada enunciado
podemos pensar um enunciado oposto equivalente”. Os céticos buscam as
possibilidades de uma oposição suscetível de fazer advir a epoch (epoché).
Para que aconteça esse estado mental, um fenômeno ou um pensamento é
comparado com um fenômeno ou um pensamento contrários. Com a finalidade
de pôr em prática esse tipo de oposição, Sexto Empírico apresentou três
tropos ou três formas lógicas de relatividade:
É relativo:
- Aquele que julga,
pois os seres vivos, os homens, os órgãos sensíveis e as circunstâncias
são diferentes, no momento em que se produz a percepção.
- Aquilo que é julgado,
pois os objetos parecem diferentes, de acordo com a sua quantidade.
Mesmo os costumes e os usos da vida dos povos são diversos.
- Aquele que julga e aquilo que é julgado ao mesmo tempo,
pois, dependendo da sua posição, o observador vê coisas diferentes. Um
dos dois (observador e observado) tem algo de confuso ou impuro. A
freqüência do fenômeno determina, também, a sua importância.
3 - O ceticismo exprime a dúvida fundando-a, metodicamente, em palavras de ordem (fonai = fónai), tais como: “não totalmente”, “pode ser”, “tudo é indefinido”, etc. A validade destas palavras é não-dogmática,
ou seja, aberta à dúvida. A Escola Pírrica atinha-se, estritamente, ao
fenômeno, que o cético, em geral, não podia rejeitar ou julgar. De
acordo às hipóteses céticas, o homem deveria não somente se abster de
formular juízos definitivos, como também de agir. Ora, sendo isso
impossível, o cético deveria se nortear de acordo à experiência da vida
cotidiana. Desse contexto formam parte os costumes aceitos, bem como as técnicas utilizadas
pelas comunidades humanas. A respeito, Sexto Empírico escrevia:
“Submetendo-nos (de forma não dogmática) a esses parâmetros, podemos
passar do julgamento à ação”.
4 – Sexto Empírico sustentava a hipótese de que a epoch (epoché) não poderia ser radical, ao ponto de suspender todos os conhecimentos. Assim, defendia uma ética do senso comum. Embora, como pirroniano, aceitasse a indiferença (adiaphora)
em face das soluções morais, reivindicava, também, a importância da
experiência empírica. Por esse motivo, considerava que a vida prática
dever-se-ia nortear por quatro guias: a experiência da vida, as
indicações que recebemos da natureza através dos sentidos, as
necessidades do corpo e as regras das artes. O filósofo criticava o
silogismo, que era considerado, por ele, como um círculo vicioso e
contraditava, também, a noção de signo, tão cara aos estóicos.
Criticava, outrossim, a teologia estóica, destacando as contradições que
abrigava a noção de divindade, pois se tudo quanto existe é corpóreo
(como acreditavam os estóicos), Deus não poderia deixar de ser material
e, portanto limitado (deixando, portanto de ser Deus).
5 - Com Arcésilas (315-240 a.C) a Nova Academia de Atenas tomou um rumo renovado, influenciada pelo pirronismo. A finalidade da epoch (epoché)
seria, antes de mais nada, o conhecimento certo. Os céticos da Nova
Academia disputaram com os estóicos a propósito da existência de
representações catalépticas, que nos obrigam a aderir a elas. Não
existem critérios de verdade, mas unicamente de probabilidade. As representações somente podem ser críveis, ou também sem impedimento,
ou seja, que não estejam em contradição com alguma representação. A
certeza mais provável aparece quando a representação é totalmente
examinada.
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