Parmênides
(530-560 a. C) nasceu em Eléia (hoje Vélia, província de Salerno, no
sul da Itália). Estudou com o pitagórico Amínias. Provavelmente foi,
também discípulo de Xenófanes. Consta que criticou os pensadores Jônios,
junto com Zenão, em Atenas. Escreveu o famoso poema intitulado Sobre a natureza (Peri tes fuseos), que
consta de um preâmbulo e duas partes, sendo que a primeira se refere à
verdade e a segunda à opinião. Parmênides combate, ao mesmo tempo, o
dualismo pitagórico e o conceito de movimento de Heráclito.
No seu célebre poema, Parmênides distingue a via da não-via [1].
A primeira constitui o caminho verdadeiro; a segunda, o que está cheio
de falsidades. A não-via é o caminho do não-ser, a via verdadeira é o
caminho do ser. Os signos do ser são os seguintes: ele não é gerado, não
é perecível, não é alterável, é imóvel, sem passado, sem futuro, sem
fim. Do ponto de vista positivo, ele é de complexão íntegra,
continuamente presente, inteiro e, ao mesmo tempo, único. Esses signos
são o ser mesmo, definem a participação nele.
Se ao lado da via do ser encontramos a da não-ser, que está cheia de falsidades e não qual não podemos acreditar, a via da doxa,
da aparência, como devemos compreendê-la? Apresentam-se, aqui, duas
interpretações: para uns, é uma via de falsidade. Parmênides, ao se
referir a esta via, quer talvez refutar alguns dos seus predecessores,
possivelmente Heráclito. Para outros, Parmênides desenvolve, aqui, uma
hipótese sem valor filosófico, formulada para aqueles que não são
capazes de coisas melhores.
Jean Beaufret, segundo Heidegger, propõe outra interpretação: esta terceira via é a das dokounta,
das coisas que aparecem, que se mostram no plano fenomenal. É o domínio
da inconstância. No momento em que cremos apreender as coisas, elas já
se converteram em outras. Há, nelas, uma radical dualidade de formas.
Mas essa via das dokounta
não é ilusória, não seria necessário interpretá-la a partir de uma
concepção platônica. Se o ser é colocado na primeira via, é para indicar
que ele se diferencia radicalmente de todo ente. A via das dokounta é a dos entes. A doxa
é o domínio da denominação. Encontramos, aqui, a força da Palavra que
diferencia e que, por isso mesmo, individualiza as coisas. O ente é
passagem, mas o ser é a dimensão pela qual se mede a amplitude possível
de sua presença. O ser é foco de iluminação, mas ele não é perceptível
enquanto tal. Ele se revela somente através da diversidade dos entes.
O
dimorfismo do ente significa que toda presença está contaminada com a
ausência; é por isso que não podemos confiar naquilo que aparece. Mas
isso não implica num ceticismo absoluto, pois nenhuma ausência é
irreparável. O que caracteriza as dokounta é menos a sua pluralidade do que o dimorfismo que as habita (ou seja, a dualidade, nelas, da presença e da ausência).
O
erro provém do fato de isolarmos um aspecto. A unidade, efetivamente,
não pode ser procurada no mundo dos entes. É o ser que é a unidade. O
ente é só passagem. Isso nos leva a compreender o sentido da implicação
essencial do dia e da noite. Vemos, aqui, como as categorias do mito se
prolongam nas categorias especulativas do pensamento ontológico.
[1] Temos nos baseado, para estas considerações, em LADRIÈRE, Jean. Elements de Critique des Sciences et de Cosmologie – Année académique 1966-1967. Louvain: Université Catholique, 1967 (mimeo.).
Nenhum comentário:
Postar um comentário